Os IPOs da pandemia sofrem na bolsa, mas quem abriu capital antes segue no “lucro”
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Há uma discussão entre investidores para esclarecer se o período de quase dois anos que compreendeu a fase mais crítica da pandemia de covid-19 proporcionou uma bolha no mercado de tecnologia. De um lado, há quem defenda que a valorização de algumas empresas foi exagerada neste período. De outro, o argumento é de que essas mesmas companhias vão moldar o “novo normal” e vão se valorizar com isso.
Os números mais atuais, no entanto, mostram que o otimismo deste segundo grupo tenha sido tão inflacionado quando o valor de mercado de algumas empresas. Cerca de 87% das empresas que abriram capital nos Estados Unidos em 2021 negociam suas ações abaixo do valor de estreia na bolsa. Em média, a desvalorização das estreantes em Wall Street em 2021 é de 49%.
Os dados fazem parte de um levantamento realizado pela consultoria Dealogic com base no pregão da última sexta-feira, 23 de setembro. Para efeito de comparação, as ações da S&P 500 registram queda de 23% no mesmo período, enquanto o Nasdaq Composite apresenta desvalorização média de 31%.
Entre as empresas que abriram capital em bolsas de valores dos EUA no último ano está a Nubank. Desde a estreia na Nyse, em dezembro do ano passado, a fintech do cartão roxo já perdeu 54% de seu valor de mercado e agora vale US$ 21 bilhões.
A VTEX, que opera com soluções voltadas para e-commerce, vive uma situação ainda mais crítica. As ações da companhia estão em queda de 86% desde a abertura de capital na bolsa de valores de Nova York em julho o ano passado. Com isso, a companhia agora está avaliada em US$ 684 milhões.
Para especialistas, o problema se deu por um olhar dos investidores mais voltado para crescimento do que para lucro ao longo dos últimos anos. “Os investidores estavam pagando múltiplos cada vez mais altos”, disse Jay Ritter, professor de finanças na Universidade da Florida, ao The Information. “Para que o preço das ações não caísse, tudo precisava dar certo para a empresa.”
Com o desempenho ruim de que estreou em 2021, os investidores estão mais cautelosos para apostarem em novos negócios que chegam ao mercado aberto neste ano. Por isso, os empreendedores também estão segurando as ofertas na esperança por um mercado mais receptivo.
De acordo com dados reportados pelo The Wall Street Journal, apenas US$ 7,2 bilhões foram levantados por empresas que fizeram ofertas de IPO nos Estados Unidos neste ano. É o menor valor já registrado em mais de uma década. No ano passado, os IPOs movimentaram US$ 154 bilhões no país – e isso sem considerar as aberturas de capital feitas por SPACs.
O “novo normal” do mercado de investimentos tem dificultado a vida das companhias que esperavam que a abundância de capital registrada durante a pandemia fosse prevalecer por mais alguns anos. Um exemplo é a Klarna, fintech europeia que chegou a ser avaliada de forma privada em US$ 46 bilhões.
A previsão é de que companhia que opera com uma solução de buy now, pay later fosse realizar sua abertura de capital ainda neste ano para buscar uma avaliação que poderia superar os US$ 50 bilhões. Com o mercado mais restrito, a startup foi obrigada a buscar dinheiro com investidores privados, mas sob uma avaliação bem menor: cerca de US$ 7 bilhões.
Timing e perspectiva
Enquanto as empresas que abriram capital durante a pandemia estão enfrentando dificuldades, as companhias que fizeram o mesmo processo um pouco antes do mercado continuam em alta. Principalmente no que diz respeito aos negócios de tecnologia.
Dados da Dealogic mostram que as empresas que fizeram IPO em 2019, no último ano completo antes da pandemia se espalhar pelo mundo, tem pouco a lamentar. Em média, a classe de 2019 de estreantes em Wall Street acumula alta de 38% no valor de suas ações nos últimos 12 meses.
Entre as brasileiras estreantes em 2019 está a Afya. A companhia abriu capital na Nasdaq em janeiro de 2019 e está desvalorizada desde então. A queda nos últimos 12 meses, porém, é de apenas cerca de 7%. O grupo de educação agora vale pouco mais de US$ 1,2 bilhão.
Outro caso curioso é o da BioNTech. A farmacêutica alemã que é uma das produtoras de vacinas contra covid-19 viu seu valor de mercado disparar mais de 800% desde o IPO para mais de US$ 30 bilhões. O valor poderia ser ainda maior, não fosse o fato de que as ações da companhia na Nasdaq registram queda de 45% nos últimos 12 meses.
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