O que o guarda-roupa de Frida Kahlo revela de sua identidade como artista
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Uma exposição no Palais Galliera, em Paris, conhecido como museu da moda, propõe um olhar diferente em relação a uma artista mundialmente conhecida, a mexicana Frida Kahlo, uma das mais influentes do século 20. “Além das aparências” , em cartaz até 5 de março do próximo ano, permite descobrir a intimidade da pintora e como ela construiu uma imagem tão marcante para expressar sua identidade artística e suas convicções políticas.
A mostra reúne mais de 200 objetos provenientes da Casa Azul, local onde ela nasceu e passou a maior parte de sua vida adulta, hoje o museu Frida Kahlo, na Cidade do México: roupas, cartas, fotos, acessórios, medicamentos, cosméticos, próteses ortopédicas pintadas, entre outros. Eles haviam sido selados na época de sua morte, em 1954, por seu marido, o pintor mexicano Diego Rivera, e só foram redescobertos 50 anos depois.
A coleção inclui vestidos tradicionais tehuana, xales e colares pré-colombianos que Khalo colecionava e usava para expressar sua herança mexicana e, ao mesmo tempo, criar um estilo para lidar com suas enfermidades. Aos seis anos ela contraiu a poliomielite e aos 18 ficou gravemente ferida após ter sido atropelada por um bonde e teve de sofrer dezenas de cirurgias.
“Desta vez, não são as obras de Frida Kahlo que estão em destaque, mas sim a maneira como ela compôs sua identidade de mulher e artista, tendo como ponto de partida o seu guarda-roupa”, afirma Circe Henestrosa, uma das curadoras da exposição, em entrevista ao NeoFeed.
Kahlo começou a usar saias longas para esconder suas pernas e, depois, por volta dos 20 anos, vestimentas tradicionais, com acessórios para os cabelos e colares, como uma forma de desviar o olhar em relação aos seus problemas de saúde.
“Ela ocultou sua deficiência sob as roupas, mas a revelou em sua pintura e me interessei pela maneira como ela escondia e mostrava seu corpo. O vestuário é um suporte de expressão para a artista, da mesma forma que suas telas”, ressalta a curadora.
Apesar de ter criado um estilo híbrido, misturando elementos de regiões e épocas diferentes da história do México, Kahlo se identificou particularmente com as mulheres e a cultura matriarcal de Tehuantepec, que ela jamais visitou e de onde vêm as roupas tehuana que ela colecionava.
“De todos os trajes mexicanos, o de Tehuantepec é o que mais gosto e é por isso que o uso”, dizia a pintora. Também faziam parte de seu visual inúmeros acessórios pré-colombianos, como colares de jade. Já na primeira viagem que ela fez ao exterior, aos Estados Unidos, em 1930, Kahlo percebeu que seu estilo fascinava os estrangeiros, como mostram cartas escritas por ela.
Uma das salas da exposição mostra vários espartilhos ortopédicos, próteses e botas pintados por Kahlo e que ela usava em seu dia a dia para compor seu visual criativo. O atropelamento que quase a matou a obrigou a abandonar seus estudos de medicina. Foi durante sua convalescência que ela começou a pintar, deitada, utilizando um cavalete dobrável e um espelho fixados na cama. “Eu pinto a mim mesma porque fico com frequência sozinha”, dizia Kahlo, que realizou dezenas de autorretratos, um dos pontos fortes de sua arte.
O Palais Galliera não escolheu por acaso reunir em um mesmo local objetos pessoais, fotografias, vestidos e pinturas. “Tudo faz parte do mesmo processo criativo. Ela pinta seus espartilhos como suas telas e usa suas roupas da mesma maneira que se retrata vestindo as peças. É preciso olhar o conjunto para perceber como a artista construiu sua identidade e alimentou sua criatividade”, diz a curadora da mostra.
O percurso da exposição é biográfico e temático, mostrando diferentes facetas da vida da pintora, desde sua infância, onde aprendeu a fazer poses para fotos com seu pai, fotógrafo do governo mexicano. Há algumas fotos dela, jovem, com a família, vestida com roupas masculinas. Depois, Kahlo foi ao longo da vida fotografada por nomes importantes dessa arte. Suas viagens internacionais são outro tema de destaque na mostra.
Em Paris, onde ela expôs no final dos anos 30 e teve contato com grandes nomes do surrealismo, a artista também se interessou pela moda, frequentando desde a butique da costureira Elsa Schiaparelli aos mercados de pulgas da capital. Um dos pontos altos da exposição é justamente sua coleção de roupas, que revela como ela criou uma aparência original e audaciosa.
A maneira como Kahlo se vestia acabou inspirando grandes nomes da moda. Uma sala do Palais Galliera, apresenta até o final de dezembro, como uma continuidade da mostra sobre Kahlo, como a pintora influenciou as criações de grandes costureiros. Entre eles, Jean-Paul Gaultier, Karl Lagerfeld para a Chanel, Maria Grazia Chiuri para a Dior, Riccardo Tisci e Alexander McQueen para a Givenchy. McQueen, por exemplo, realizou espartilhos em materiais como metal e plástico.
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