Mulher é o equilíbrio da vida, mas ainda enfrenta crueldades e é tratada com desdém
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É preciso guardar com zelo este dia romântico envolvendo a figura da mulher como um símbolo de esperança de tempos melhores
Como se comemora o Dia Internacional da Mulher? Com um poema? Com um ramo de flores? Com um presente? Com uma declaração de amor? E por que o Dia Internacional da Mulher é comemorado no dia 8 de março? A mulher realmente necessita dessa comemoração nos dias atuais? O Dia da Mulher há de ser todos os dias, como ocorre com tudo. Mas existem fatos históricos que não podem simplesmente ser no tempo, uma história de lutas que, de alguma maneira, ocorre até hoje numa sociedade masculina. Mas há que se guardar o romantismo desse dia. Não podemos descartar a beleza e o que ainda resta do amor. A figura da mulher estará sempre presente nos fatos mais importantes da vida. Pelo menos tem sido assim, embora hoje os dias sejam difíceis e de muita crueldade em relação às mulheres. Basta ver os números assustadores de feminicídios, geralmente praticados pelos companheiros ou ex-companheiros que se julgam proprietários da mulher. Para esses crimes, advogados espertos chegaram a inventar até a figura jurídica de “legítima defesa da honra”. Então a mulher, nesses casos, é vítima e também culpada. No trabalho as injustiças são muitas, como se a mulher fosse um ser menor, que não merece lugar de destaque numa empresa ou qualquer outro lugar em que esteja. E isso se vê, por exemplo, no trabalho, numa mesma função. O homem sempre recebe mais. E por que isso acontece? Porque o mundo ainda guarda certo desprezo à condição feminina, uma injustiça que se acentua cada vez mais.
Mas, não vamos fugir do romantismo da data, porque existem casais felizes, namorados apaixonados, existe a paixão. E a paixão tem que ser vivida com toda a intensidade que a vida pode oferecer. E em tempos cada vez mais violentos, talvez o romantismo seja ainda o que nos resta preservar numa vida árida feita de tantas injustiças. Tomo a liberdade, dentro desse clima, de publicar um poema chamado “Beatriz”, de um livro meu chamado “Poemas Portugueses”, lançado em Coimbra, Portugal, em 2002. Dá bem o tom do que quero dizer, assim na primeira pessoa, em relação a essa mulher que certamente sequer existia para um poeta que com ela sonhava e a ela escreveu:
Em algum lugar do mundo
existirá uma mulher chamada Beatriz
e haverá de ser colhedora de uvas
nas quintas de Portugal.
Em algum lugar do mundo essa Beatriz
estará usando sandálias de camponesa
e será talvez pescadora das tardes e dos rios.
Em algum lugar me esperará
Como se não esperasse ninguém,
como se não fosse ela
a própria Beatriz em alguma igreja distante.
Estará essa Beatriz a colher figos do Outono
com desejos de partir para os oceanos
a ouvir as aves
no pátio de sua espera.
Haverá de estar com uma bolsa de folhas,
o musgo das árvores,
o limo do chão.
Haverá de saber cantar silêncios
essa Beatriz à janela de um castelo.
Em algum lugar de Portugal.
Tem de ser assim, sempre que se pensar numa mulher, amada, amiga, companheira, caminheira de destinos longínquos, parceira de voar com os pássaros, essa que se mostra infinita ao amor sem medida só de encontro e entrega, só de perdão, como diria Vinícius de Moraes. A poesia é necessária neste dia. Não pode ser esquecida. E a mulher é a mulher, essa que luta todos os dias nos pontos de ônibus, nos trens, nos escritórios, nas fábricas, luta por um tempo melhor. Mas não esqueçamos o romantismo nem a rosa vermelha mais bonita do mundo. Os momentos de felicidade, infelizmente, são poucos. É preciso aproveitá-los para vivê-los como se o mundo fosse acabar amanhã. A mulher é também o sonho, como a Beatriz do poema, ou a de Dante, imaginada distante mas à espera da vida por viver.
Um pouco da história: neste dia 8 de março celebra-se, sim, uma data de conquistas sociais, políticas e econômicas, com o passar dos anos e na vida do mundo, tendo a figura da mulher ao fundo de um cenário nunca favorável. O dia 8 de março foi adotado pela ONU. A luta das mulheres por uma vida melhor, partindo especialmente do trabalho, teve início no final do século 19, principalmente na Europa e Estados Unidos. Nessa época, a mulher sofria todo o tipo de discriminação, trabalhando 15 horas por dia por baixos salários, bem diferente da vida desfrutada pelos homens que viam na mulher um ser inferior, herança de milhares de anos anteriores de costumes que não davam à mulher nenhuma oportunidade em qualquer setor da vida. Apenas servia ao homem, mais nada. Até por questões religiosas. E esse cenário manteve-se assim através dos séculos. Até que chegou o final do século 19, quando a mulher se deu conta de que a história não seria mais assim. O primeiro dia da mulher foi comemorado nos Estados Unidos em maio de 1908, quando mais de 1.500 mulheres se reuniram numa manifestação pedindo igualdade política e econômica no país. Em agosto de 1910, a jornalista feminista Clara Zetkin propôs uma jornada anual de trabalho pelo direito das mulheres. Depois disso, vários acontecimentos na área trabalhista resultaram na criação de um dia especial para as mulheres. Um desses acontecimentos foi o incêndio nos Estados Unidos de numa fábrica de roupas no dia 25 de março de 1911, no qual morreram 129 operárias. Nenhuma conseguiu escapar porque a porta de saída estava fechada e pelas péssimas condições em que trabalham. Viviam na fábrica como prisioneiras, sem respeito qualquer. O dia 8 de março surgiu com uma grande manifestação das mulheres realizada nesta data em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial. Essa manifestação, conhecida como “Pão e Paz” contou com a participação de mais de 90 mil mulheres russas, transformando-se no marco inicial para a criação do Dia Internacional da Mulher, data oficializada somente em 1921. Depois desse conflito e com as transformações da Revolução Industrial, as mulheres foram para as fábricas, mas como mão de obra barata. Ocorre que a data foi esquecida e só voltou a ser comemorada nos anos de 1960, com o movimento feminista. A ONU reconheceu a data e a comemoração somente em 1975. E até hoje a mulher vive num mundo feito de homens e para homens, disputando seu espaço justo, até como chefe de família. E até hoje essa mulher é discriminada por homens sem consciência nenhuma de cidadania, com ideias machistas que fazem da mulher um simples objeto. Infelizmente, esse é o mundo em que estamos mergulhados.
Que seja um dia de despojamento nestes tempos difíceis de viver. Que seja um espetáculo íntimo inesquecível e que a mulher seja respeitada sempre, independentemente desta data especial. Mulher, negra, branca, operária, engenheira, médica, jornalista, a senhora da limpeza, a enfermeira, dona de casa, todas as mulheres, todas – seja quem for – a parceira de todos os dias e todas as horas. O mundo poderia ser melhor, o país também. Então que saibamos aproveitar os poucos momentos de encantamento que ainda existem. Que saibamos viver de mãos dadas, como a passear sobre folhas antigas de um outono tardio. Que saibamos fazer do amor o que o amor merece. O dia da mulher tem de ser todos os dias no ambiente em que vive, mas que o dia especial como hoje, antes de tudo signifique respeito e até veneração. A mulher é o equilíbrio da vida, aquela que está presente nos momentos mais emergentes, embora quase sempre tratada com certo desdém até hoje. Uma sociedade civilizada deseja a igualdade entre homens e mulheres em todos os setores da vida, sem essa disputa que ainda ocorre em pleno século 21. Muitos ainda pensam que a mulher de hoje é a mesma do século 13. Não. Não é. É um ser especial e assim continuará a ser se houver respeito necessário e cada um saiba ocupar o seu lugar numa conjugação de afetos e reconhecimento. Seja como for, vamos guardar com zelo este dia romântico envolvendo a figura da mulher como um símbolo de esperança de tempos melhores.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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