Indicadores de confiança refletem que a recuperação econômica ainda está lenta e um pouco distante
[ad_1]
A grande conexão entre os preços de ativos e a economia real está nos índices de confiança; isso porque, sem a aposta dos agentes, nada anda
Enquanto o mundo aguarda o resultado das eleições norte-americanas, com o assunto sendo exaustivamente falado nas mídias, quero bater um papo sobre a situação da economia brasileira. Para mim, que olho diuturnamente os preços de ativos, o grande “link” com a economia real está nos indicadores de confiança. Isso porque, sem confiança dos agentes, nada anda. Se você é empresário e não tem confiança na economia, sua decisão de investimentos, de contratação, de expansão certamente será postergada; o mesmo se você é consumidor, se está receoso com a economia, não tomará crédito, não viajará, cortará gastos. Então, quanto mais alto os níveis apontados pelos indicadores de confiança, maior a chance de a roda da economia girar mais rápido.
A FGV divulga diversos indicadores de confiança, por setor, por agentes, etc. A análise desses indicadores mostra que o nível de incerteza em relação à economia ainda é bastante alto. É verdade que a percepção já melhorou muito em relação ao auge (abr/mai deste ano), mas ainda está acima do usual. Por exemplo, o indicador de incerteza da economia de outubro está 30% melhor que o auge da crise, porém ainda 40% pior que a média histórica dos últimos 10 anos. E daí me vanglorio dos textos quase repetitivos que escrevi entre agosto e setembro, afirmando que a recuperação ainda não havia atingido velocidade de cruzeiro e que o otimismo do mercado financeiro com os saltos dos índices de vendas no varejo me parecia prematuro.
Entre os agentes de economia real, os mais otimistas são os empresários industriais. Que possivelmente a espera de uma conduta mais ativa do governo praticamente voltaram ao seu nível de confiança pré-Covid-19, mas ainda segue baixo quando consideramos os padrões históricos. O ponto aqui é que mesmo pré-Covid-19, essa confiança deveria ser trabalhada, porque para atingirmos uma recuperação econômica estruturada, precisamos de investimentos, que por si só geram empregos. E o Brasil ainda está em uma escala ruim de se fazer negócios, sobretudo quando olhamos a questão tributária. Hoje ainda somos um dos países que mais se gasta tempo para pagar impostos (segundo uma pesquisa do Banco Mundial chamada “doing business”); e, portanto, uma reforma tributária que endereçasse esse tema será muito bem-vinda para os empresários. Acredito que os primeiros suspiros dessa reforma nesse ano deram alento aos empresários nos últimos meses, porém sua aparente paralisia pode afetar essa confiança à frente.
A confiança do consumidor também é um excelente indicador que as coisas não estão bem, sobretudo no mercado de trabalho. Claro que o patamar de outubro é muito mais alto que entre abril/maio; mas o consumidor segue ressabiado, com confiança abaixo do patamar encerrado em 2019. Acho isso curioso, porque foi despejado um caminhão de estímulos, seja fiscal, através do auxílio emergencial, seja monetário com a taxa de juros alcançando míseros 2% ao ano – isso ajudou muito, mas não resolveu. Nessa minha caminhada de economista, aprendi que há dois motores para a confiança dos consumidores: inflação e emprego. Embora o indicador de inflação geral esteja controlado, sabemos que há vários itens na cesta de consumo do brasileiro médio que está bastante pressionado, como alimentos e itens ligados à taxa de câmbio. A taxa de desemprego tem batido recordes e já mencionei aqui, em artigos passados, que implicitamente essa taxa poderia estar bem mais alta, o que sugere fortemente que o mercado de trabalho está ruim. Em linhas gerais, os indicadores de confiança não refletem uma imagem muito auspiciosa. A recuperação econômica ainda está lenta e talvez um pouco distante.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
[ad_2]