ARTIGO: Sobre o tempo em tempos de cólera
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Em todas as pandemias que acometeram a humanidade, os seus efeitos nos fizeram passar por uma revisão. Logo no início da Covid 19, liderei um estudo sobre o tema com a finalidade de preparar meus clientes para o cenário que viria pela frente.
Fizemos um levantamento histórico acadêmico sobre esses momentos e seus impactos econômicos e psicológicos. Realizamos também uma pesquisa com 3 mil entrevistas em diferentes partes do país, para entender como os brasileiros passavam por aquele momento. Nesse estudo, o que apareceu de forma mais relevante no comportamento das pessoas foi uma mudança no eixo das prioridades de suas vidas.
Essa mudança de prioridades foi fruto de uma sensibilização sobre a importância do tempo, talvez motivada pelas constantes manchetes da finitude, o aumento diário do número de mortes. Ganhou extremo valor o tempo com a família e consigo mesmo, o tempo para cuidar da saúde, para experimentar coisas novas. O tempo da existência.
Te convido a fazer essa mesma reflexão, aqui e agora, nos próximos três minutos de leitura do restante deste texto.
Se há uma boa forma de definir a vida é através do tempo. Veja, você dura cerca de 77 voltas no sol. Esta é a longevidade média de um brasileiro. E, a cada volta no sol, um punhado de areia da ampulheta do tempo da sua vida vai embora.
A partir de agora, imagine-se com essa ampulheta pairando sobre sua cabeça e vertendo areia sem parar. Cada grão dessa areia representa um segundo a menos da sua existência. E desperdiçá-la é suicidar-se lentamente, pois o tempo é o recurso mais valioso que temos.
Você pode reparar sua saúde, suas finanças ou suas relações, mas o tempo é o único recurso irrecuperável. Mesmo assim, parece que nos esquecemos do valor do nosso tempo e do tempo dos outros. E isso nos faz sofrer e praticar um tipo de assédio típico da vida contemporânea: o assédio do tempo.
Apatia temporal
Com a revolução da velocidade que vivemos desde a era industrial, a impressão que fica é que as pessoas estão cada vez mais letárgicas em relação ao valor do tempo. Será que continuaremos a viver a mesma sociedade frívola, de atividade incessante, que vivemos até então?
Sofremos de apatia temporal, uma total falta de consideração com o nosso tempo e com o do outro. Nos assediamos temporalmente todos os dias, sem nem mesmo dar conta. Quando um cliente demanda um trabalho sem um prazo mínimo exequível e acaba tomando noites ou finais de semana das pessoas, isso é um assédio de tempo.
Por outro lado, quando se tem o tempo necessário para o trabalho, mas usa-se apenas os últimos dias em sua execução por falta de gestão, a recíproca é verdadeira. Atrasos em compromissos, projetos sem cronograma, reuniões sem pauta, ficar com os olhos no celular durante uma apresentação ou pedir um papo de “cinco minutinhos” e levar 40 são também exemplos de pequenos assédios do tempo cotidiano.
E, apesar disso, tudo parecer normal em nosso dia a dia, muita coisa séria acaba ficando sem areia na ampulheta: os filhos, as relações pessoais, o cuidado com a saúde e a mente, por exemplo. Gastamos a areia do outro sem a menor preocupação ou respeito. E acabamos desperdiçando a nossa.
Consciência temporal
Vivemos num mundo acelerado que criou novas expectativas sobre o nosso ritmo. A cada ano, temos de nos tornar versões mais rápidas de nós mesmos, assim como um novo modelo de celular. Nós vivemos uma recente fantasia de otimizar uma vida para obter desempenho máximo, produtividade e eficiência.
O problema é que essa ansiedade temporal impacta diretamente as nossas relações, nossa capacidade criativa e nossa tomada de decisões. O efeito de estarmos expostos a uma vida em alta velocidade é o da frustração de uma vida não vivida.
Certa vez, sentada de cavalinho nos meus ombros, minha filha Maria pediu para ficarmos um pouco mais contemplando um rio. Foram dois minutos de silêncio, ouvindo a natureza. Talvez a experiência mais singela e deliciosa que tive com ela. Sem ter uma consciência temporal, provavelmente, eu não teria desfrutado com tanta riqueza esse momento único, que não voltará mais.
Então te pergunto: como você gastou a sua areia ontem? Ela foi usada de forma produtiva, em algo que te deixou mais realizado ou feliz? Ou foi aplicada em tarefas sem sentido, que nem mesmo foram planejadas por você? Valeu a pena gastar um tanto da sua areia com o dia de ontem? E como será amanhã?
Nossa areia acabou
Saber onde colocar cada grão da sua areia é o retrato das suas prioridades. E à medida que sua consciência temporal cresce, você aumenta o critério sobre onde por ou não a sua areia.
Hoje, fico muito mais agradecido quando alguém aceita almoçar comigo, pois entendo que a pessoa decidiu gastar sua areia (seu tempo) em nossa relação. Por isso, agradeço cada grão de areia que você me deu ao ler esse texto.
E termino compartilhando uma pergunta que tenho me feito com frequência: o que você pretende fazer com o tempo que te resta?
* Fernando Diniz é jornalista e CEO da agência DPZ
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