Campos Neto “dribla” o mercado, mas cria armadilha ao Copom
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O Banco Central terá uma árdua tarefa pela frente se o mercado dobrar a aposta em corte da taxa de juro mais cedo antes do primeiro semestre de 2023. O movimento foi intensificado nesta semana com a divulgação de três índices de inflação em quedas acima do esperado: IPCA-15, Índice de Preços ao Produtor (IPP) e IGP-M.
As projeções de arrefecimento da inflação têm fortalecido a ideia de que a Selic pode ser reduzida antes da virada do primeiro semestre de 2023. Essa avaliação pode precipitar uma reprecificação de ativos e dificultar o trabalho do BC para baixar a inflação.
A inflação ainda está muito alta. Não é à toa que o BC pretende manter a taxa de juros em 13,75% por um longo período para garantir sua convergência para a meta.
A economia, porém, responde aos juros mais longos. E a perspectiva de cortes antecipados da Selic tem efeitos: alivia as condições financeiras, tende a dar suporte para a atividade e torna menos eficiente o aperto monetário.
Inesperadamente, Roberto Campos Neto, presidente do BC, agiu para conter danos à frente – inevitáveis se a aposta em corte antecipado da Selic avançar – e não mediu palavras durante entrevista sobre o Relatório de Inflação, divulgado nesta quinta-feira, 29 de setembro.
Campos Neto afirmou que a curva de juros – portanto o mercado – aponta para corte de Selic em junho de 2023, talvez um pouco antes, e que, nesse horizonte, o BC atinge o objetivo de levar a inflação ao redor da meta.
O presidente do BC deu um drible no mercado no sentido de conter especulação sobre a queda da Selic. Entretanto, ergue uma armadilha para o Copom, caso o cenário sofra alteração relevante e a trajetória de queda da inflação não se confirme ou os preços voltem a subir.
E pode ser precipitado descartar um período de euforia nos mercados nas próximas semanas. De um lado, passada a eleição, a definição do próximo presidente é um redutor de incertezas. De outro, o próprio Relatório de Inflação é combustível para expectativas mais animadoras para a economia brasileira.
O documento do BC traz avaliações positivas sobre a atividade, reconhece que a inflação declina pela redução de impostos sobre combustíveis e energia elétrica e indica que essa tendência de queda pode ser amplificada pela fragilidade da economia internacional que tem no enfraquecimento dos preços das commodities um viés deflacionário.
O relatório pontua que a inflação, embora bem acima do teto da meta de 5% para este ano, caiu de 11,73% em junho para 8,73% em agosto. E a projeção do mercado declinou de 8,50% para 6%.
A projeção para o crescimento do PIB deste ano passou de 1,7% para 2,7% e o BC avalia que a economia avançará 1% em 2023.
O avanço do PIB deste ano é creditado particularmente ao vigor do crédito que a instituição estima crescerá 14,2% em 2022 e não mais 11,9% como previsto anteriormente.
Outro dado que reforça a percepção de que a economia vai bem é o aumento das importações que tiveram, segundo o BC, “alta acentuada em linha com o crescimento da atividade industrial e aumento das importações de adubos e fertilizantes, bens de capital e combustíveis”.
Com o mundo desacelerando, as exportações não tiveram evolução tão favorável no terceiro trimestre, inclusive, pelo arrefecimento dos preços internacionais de diversas commodities.
Em contraponto, diz o BC, os investimentos externos diretos no Brasil seguem em alta com “a melhora da atividade doméstica, lucratividade das empresas, retomada de projetos adiados pela pandemia e demanda por investimentos em energia, tecnologia e óleo e gás”, informa o Relatório de Inflação.
O BC também traz um alento quanto às contas públicas. Em três meses, desde o Relatório de Inflação de junho, a mediana das projeções para o resultado fiscal passou de déficit de R$ 12 bilhões para superávit de R$ 30 bilhões. E, se confirmado, será o primeiro desde 2013.
A perspectiva favorável para as contas do governo, pontua o BC, reflete uma arrecadação firme, sustentada sobretudo por receitas derivadas da renda fixa – reflexo do aumento das taxas de juros – e do resultado de empresas ligadas ao setor de commodities.
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