Brasil é capaz de produzir cérebros excepcionais, mas não oferece vagas atraentes para eles
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Com a economia estagnada e completo desestímulo à pesquisa, mão de obra altamente especializada prefere fugir para mercados como Estados Unidos, Canadá e Europa
A pandemia da Covid-19 atingiu o Brasil na área da inteligência. Os chamados grandes cérebros brasileiros estão deixando o país por falta de oportunidade de trabalho. As ofertas financeiras são irrecusáveis. A questão se acentuou durante a pandemia, tratada no Brasil com descaso, o que envolve até mesmo a vacinação da população. Grandes empresas estrangeiras estão contratando brasileiros até mesmo no modelo home office. A mão de obra altamente especializada brasileira está indo embora, como já ocorreu em outras ocasiões, especialmente no período da ditadura militar. As companhias de fora estão à procura principalmente de pessoal de tecnologia da informação. Esses profissionais estão sendo disputados especialmente pelos Estados Unidos, Europa e Canadá. Em termos de salário, o Brasil não tem condições de competir. Além disso, as bolsas de estudo científicas praticamente desapareceram em terras verde-amarelas, o que fez aumentar as ofertas estrangeiras.
A verdade é que a pandemia provocou essa migração especializada, o que vem ocorrendo, também, em alguns países com a economia estagnada. Com a expansão do home office, as ofertas se multiplicaram, e o brasileiro nem precisa sair de casa para receber em euro ou dólar. Não pode ter oferta melhor: primeiro, para fugir de um país alucinado e, segundo, porque o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo em 2020. Isso significa que o mercado tecnológico do Brasil está correndo um risco. O país não tem como competir com uma Alemanha, por exemplo. Está tudo muito difícil, conforme diz a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação. Independentemente de salário bem maior, os profissionais estão aceitando as ofertas de empregos estrangeiros até por questão de qualidade de vida e de segurança. A pesquisadora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Márcia Barbosa, observa que, com medo de não conseguir financiamento para seus estudos em sua terra natal, o cientista começa a colocar em dúvida se vale a pena continuar num país que não lhe garanta o futuro. A professora assinala que a pesquisa simplesmente parou no Brasil, não existe mais. E isso não aconteceu no resto do mundo. Observa que, para decolar, qualquer economia necessita de ciência e tecnologia. No que ela está certíssima.
Já a professora Ana Maria Carneiro, da Unicamp, de São Paulo, revela um quadro constrangedor, citando dois motivos para a debandada: falta de recursos para manutenção dos laboratórios e a questão política. Chegou-se a um ponto lastimável, que é a autocensura do pesquisador. Isso acontece quando ele teme avançar demais nos seus temas e provocar os grupos conservadores, o que significa, sempre, uma campanha avassaladora nas redes sociais, que por vezes destrói até a biografia. Ninguém mais está disposto a correr esse risco em um país que praticamente só vive de intrigas, dia e noite, noite e dia, alimentadas por grupos políticos. O pesquisador fica de mãos amarradas, como os demais profissionais da área da tecnologia. A pandemia agravou o desemprego, que está perto de quase 15 milhões. E sobram vagas lá fora para profissionais no setor da tecnologia da informação, os mais cobiçados pelas empresas estrangeiras. O profissional brasileiro prefere ir embora para ganhar mais e ter uma vida mais tranquila, sem as loucuras de todos os dias no Brasil.
Pior é que as previsões para 2021 não são boas. Pelo contrário: apontam para mais desaquecimento econômico. Na lista dos países que serão mais atingidos, o Brasil figura em nono lugar, de acordo com várias pesquisas realizadas no mundo, revelando que o maior temor, no que diz respeito à América Latina, são os governos populistas, em que o nosso é o destaque. As medidas tomadas por aqui são recebidas com ceticismo pelas nações desenvolvidas, especialmente no que diz respeito ao combate à pandemia e à tensão política constante, da qual o país não consegue se livrar. É comum dizer-se, no exterior, que o Brasil está sozinho no mundo. E compreende-se bem essa afirmação tão drástica. As atitudes brasileiras batem de frente com o pensamento dos grandes países desenvolvidos, aqueles que seguem a linha determinada do bom-senso. Infelizmente, não é isso que se vê no Brasil. Sem expectativas futuras, os profissionais brasileiros nas áreas da tecnologia estão indo embora em busca melhores dias porque não encontram aqui o mínimo necessário para seguir uma carreira científica séria.
Também há casos que relatam o contrário, mas, no final da história, explicam bem uma questão que cada vez se evidencia mais. Vamos citar apenas um caso, apenas um entre muitas centenas de histórias iguais: a do zoólogo paranaense Rodrigo Rios. Graduado em ciências biológicas, mestre e doutor em zoologia pela Universidade Federal do Paraná, ele estudou na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, e fez pós-doutorado na Universidade de Durhan, na Inglaterra, onde ainda é pesquisador associado do Departamento de Antropologia da instituição inglesa. Desde que regressou ao Brasil, em 2016, para se sustentar, o zoólogo brasileiro teve de trabalhar de garçom, barman, figurante de filmes, entregador do Uber Eats e modelo nu em um curso de arte. Dizer o quê? Não há o que comentar.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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